
Dois terços dos brasileiros (67%) acreditam que as terapias alternativas são importantes para curar o câncer, de acordo com levantamento da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica realizado em julho desse ano e divulgado nesta terça-feira (24), no Rio de Janeiro. A pesquisa também mostra que 26% acreditam que apenas a estimulação do próprio corpo aumenta as chances de cura, como o uso de terapias de transferência de energia com as mãos.
A entidade entrevistou 1,5 mil pessoas nos 26 estados do Brasil e no Distrito Federal com o objetivo de investigar o conhecimento, os hábitos, e estilo de vida dos brasileiros em relação ao câncer.
Sobre a crença nas terapias alternativas, especialistas ligados à entidade se dividem entre a resignação e a preocupação em relação ao dado – enquanto acreditam que a informação é importante e que é preciso fortalecer a ciência, também dizem que de nada adianta ter uma postura de enfrentamento em relação à fé.
“Os dados mostram uma tendência ao risco e uma predileção por escolhas não científicas”, diz Cláudio Ferrari, diretor da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica.
“Entendemos que pode ser que a pessoa fique mais feliz, mas isso não pode justificar o abandono de terapias comprovadamente eficazes”.
“Já me resignei em relação a isso. Você pode ter duas posturas: uma delas é de acolhimento, que vai reconhecer a importância da escolha, mas tentar estabelecer um diálogo que explique a importância do tratamento”, diz Gustavo Fernandes, presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica.
O especialista cita experiências ruins que teve em relação à fosfoetanolamina, mais conhecida como “pílula do câncer”, que acabou não tendo resultados satisfatórios contra a doença em estudos clínicos.
“Tive duas situações muito ruins com o caso da fosfoetanolamina, porque teve uma hora que eu perdi a paciência, dizia para os pacientes que era um lixo mesmo, e a resposta dos pacientes a isso não foi boa.”
Informação não chega e há desconhecimento
A entidade também identificou que o brasileiro não está profundamente familiarizado com o tema câncer. Quatro em cada dez afirmaram ter conhecimento mediano; e 26% afirmaram entender profundamente sobre o assunto.
O levantamento mostrou desinformação em relação a fatores de risco – mais de um em cada quatro brasileiros (27%) dizem não identificar relação entre câncer e sobrepeso, 26% não relacionam o câncer com Doença Sexualmente Transmissível (DST) e 21% acreditam que fumar de vez em quando não aumenta o risco de câncer.
“Não está chegando informação para uma parcela significativa da população”, diz Cláudio Ferrari, diretor da Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica. “Isso é o o que nós identificamos.”