Megaesquema imobiliário em SC: suposto golpe da VR Brasil ultrapassa R$ 1 bilhão em prejuízos
Investigação revela rede complexa de fraudes, com bloqueio de patrimônio milionário; mais de 3 mil vítimas aguardam ressarcimento
Em um dos maiores escândalos financeiros já registrados em Santa Catarina, a empresa VR Brasil, sediada em São José, é alvo de uma extensa investigação que revelou um esquema fraudulento envolvendo a venda de cotas imobiliárias, resultando em prejuízos estimados em R$ 1 bilhão para mais de 3 mil vítimas. A Delegacia de Defraudações da Diretoria Estadual de Investigações Criminais (Deic) conseguiu, após meses de entraves judiciais, autorização para implementar medidas cautelares que resultaram no bloqueio de significativo patrimônio dos investigados.
Dimensão do bloqueio e patrimônio apreendido
A Justiça determinou o bloqueio de:
R$ 500 mil distribuídos em 96 contas bancárias
9 imóveis (8 urbanos e 1 rural)
54 veículos de luxo
6 embarcações (incluindo iates e motos aquáticas)
Segundo o delegado Leonardo Silva, responsável pela investigação, o valor recuperado poderia ter sido significativamente maior. "Se as medidas tivessem sido autorizadas oito meses atrás, poderíamos ter bloqueado entre R$ 5 e R$ 8 bilhões", afirma.
Morte suspeita e cronologia do caso
O caso ganhou contornos ainda mais intrigantes após a morte do fundador da empresa, Márcio Ramos, em 16 de maio de 2024, em um acidente de moto no bairro Capoeiras, em Florianópolis. Investigadores não descartam a possibilidade de que o acidente tenha sido forjado, hipótese que está sendo apurada pelas autoridades.
O esquema de investimentos
A VR Brasil operava com um sofisticado sistema de captação de recursos, prometendo aos investidores:
Rendimentos mensais de 3,3%
Participação em empreendimentos imobiliários de luxo
Gestão através de um banco próprio (LMC Bank) - operado sem autorização do Banco Central
Impacto social e casos emblemáticos
Entre as vítimas, destacam-se histórias que revelam o impacto devastador do golpe:
Ruth Nunes de Ávila, 71 anos, de Porto Alegre: Investiu R$ 550 mil da venda de sua casa e hoje trabalha como camareira
Rosana Lopes Simas, de Palhoça: Aplicou R$ 40 mil destinados aos cuidados da mãe com Alzheimer
Arthur Alves Silva: Perdeu R$ 140 mil que havia reservado para seu casamento
Investigação em curso
A polícia investiga atualmente:
12 pessoas físicas (ex-gerentes e ex-sócios)
16 empresas relacionadas ao esquema
Possível rede de lavagem de dinheiro e ocultação de patrimônio
Tentativas de recuperação
A empresa tenta uma recuperação judicial, alegando possuir ativos suficientes para ressarcir as vítimas, incluindo:
Bombas Resort (em construção paralisada)
Projeto Termas do Tabuleiro (com contrato rescindido)
No entanto, o pedido de recuperação judicial foi negado em primeira instância pelo juiz Luiz Henrique Bonatelli, estando agora em fase de recurso no Tribunal de Justiça de Santa Catarina.
Próximos passos
A investigação deve se estender por 12 a 18 meses, período em que serão analisados todos os dados bancários dos envolvidos. As autoridades trabalham para identificar possíveis manobras de ocultação de patrimônio e transferências fraudulentas, visando maximizar a recuperação dos valores para as vítimas.
As vítimas se organizaram através da Associação dos Cotistas Lesados pela VR Brasil, buscando força coletiva para enfrentar os processos judiciais e recuperar os investimentos perdidos.
O caso da VR Brasil destaca-se como um dos maiores golpes financeiros já registrados em Santa Catarina, evidenciando a necessidade de maior regulação e fiscalização no setor de investimentos imobiliários, além de alertar para os riscos de promessas de retornos financeiros extraordinários.
Com informações do Ndmais