O Movimento Legendários: Origens, denúncias e controvérsias
Revelando as Origens, Polêmicas e o Impacto Explosivo de uma Subcultura Masculina
Nos últimos anos, o chamado "Movimento Legendários" tem ganhado visibilidade no Brasil, especialmente em espaços digitais como redes sociais e fóruns online. Embora não seja amplamente documentado em fontes acadêmicas ou jornalísticas tradicionais, o termo "Legendários" tem sido associado a uma subcultura masculina que promove ideias controversas sobre masculinidade, relações de gênero e poder social.
Este artigo busca explorar as origens desse movimento, os casos de denúncias relacionados a ele, possíveis conexões com grupos incel e misóginos, e o status de eventuais processos judiciais, com base em informações disponíveis e uma análise crítica do fenômeno.
Origens do Movimento Legendários
A origem do nome "Legendários" sugere uma tentativa de evocar uma aura de heroísmo ou superioridade, remetendo a figuras masculinas míticas ou históricas. Influenciadores digitais, alguns dos quais associados à chamada "machosfera" (um termo que descreve redes online de grupos masculinistas), têm desempenhado um papel central na disseminação dessas ideias.
Esses criadores de conteúdo frequentemente monetizam suas plataformas com cursos, mentorias e discursos motivacionais, atraindo seguidores que buscam respostas para frustrações pessoais ou sociais.
O movimento também parece ter sido influenciado por tendências globais, como o "red pill" (pílula vermelha), uma filosofia originada em fóruns anglófonos que defende a rejeição de narrativas sociais progressistas em favor de uma suposta "verdade" sobre as dinâmicas entre homens e mulheres. No Brasil, esse discurso encontrou eco em um cenário de crise econômica, desigualdades sociais e debates acalorados sobre feminismo e direitos das mulheres, criando terreno fértil para a adesão de jovens desiludidos.
Denúncias e controvérsias
Embora o Movimento Legendários não tenha uma estrutura centralizada, diversas denúncias têm surgido em torno de comportamentos associados a seus membros ou simpatizantes.
Relatos apontam que alguns grupos ‘dissidentes’ ligados ao movimento promovem discursos de ódio, especialmente contra mulheres, em chats privados e publicações nas redes sociais. Organizações de direitos humanos e coletivos feministas têm alertado para o aumento de casos de assédio online, ameaças e até incitação à violência, muitas vezes vinculados a essas comunidades.
Um caso notório, amplamente discutido em 2023, envolveu um influenciador identificado como parte do movimento que foi acusado de incentivar ataques virtuais contra ativistas feministas.
Segundo denúncias registradas na SaferNet, uma ONG que monitora crimes digitais no Brasil, houve um salto de 251% nos registros de misoginia online entre 2021 e 2022, com parte desse aumento atribuída a grupos misóginos.
Esses episódios incluem desde ofensas diretas até a disseminação de conteúdos que ridicularizam ou desumanizam mulheres, muitas vezes sob o pretexto de "humor" ou "crítica social".
Além disso, há registros de vítimas que relatam terem sido alvo de campanhas de difamação coordenadas, com a exposição de dados pessoais (doxxing) e ameaças de violência física. Embora essas ações não possam atribuídas ao Movimento Legendários, a retórica inflamada de alguns de seus expoentes tem sido apontada como catalisadora desse tipo de comportamento.
Relações com movimentos incel e misóginos
Embora o Legendários seja um movimento cristão focado em transformação pessoal e familiar, sua ênfase em masculinidade tradicional levanta questionamentos sobre possíveis paralelos com subculturas como os incels (celibatários involuntários) ou grupos misóginos da "machosfera".
Os incels, conhecidos por sua visão ressentida contra mulheres e pela rejeição às normas igualitárias, diferem do Legendários em tom e propósito: enquanto os primeiros se concentram em vitimismo, o Legendários promove ação, disciplina e responsabilidade masculina, com forte apelo à fé.
No entanto, há sobreposições retóricas. A linguagem do movimento, como "devolver o herói à família" e "homens inquebrantáveis", ressoa com ideias de restauração de um poder masculino percebido como perdido, comum em alguns discursos masculinistas. Especialistas, como a psicóloga Valeska Zanello, autora de estudos sobre masculinidade, alertam que tais narrativas podem, inadvertidamente, atrair indivíduos com visões misóginas, embora não haja evidências de que o Legendários incentive diretamente o ódio às mulheres.
Em fóruns online, como o X, não foram encontrados registros consistentes ligando o movimento a ataques misóginos, e sua exclusividade a homens (mulheres participam apenas em eventos paralelos, como os das "Ladies") é justificada pelos organizadores como um espaço de reflexão masculina específica.
Processos judiciais recentes
Até o momento, não há registros amplamente divulgados de processos judiciais que citem explicitamente o "Movimento Legendários" como uma entidade formal. No entanto, casos isolados envolvendo indivíduos associados ao movimento têm chegado ao Judiciário.
Em 2019, por exemplo, o Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios condenou o autor de um blog misógino por divulgar informações pessoais de mulheres acompanhadas de ataques verbais. Embora esse caso não mencione os Legendários diretamente, ele reflete o tipo de comportamento que tem sido vinculado a essas comunidades.
Mais recentemente, em 2023, a proposta de um projeto de lei para criminalizar a misoginia, originada de uma ideia da pesquisadora Valeska Zanello, foi apresentada na Câmara dos Deputados. O texto busca tipificar atos de ódio contra mulheres como crime específico, o que poderia impactar grupos como os Legendários caso suas ações sejam enquadradas como violação da lei. Até abril de 2025, o projeto segue em tramitação, sem aprovação definitiva.
A dificuldade em processar judicialmente esses movimentos reside na natureza descentralizada da internet e na proteção à liberdade de expressão, que muitas vezes é invocada como defesa. Ferramentas como a plataforma Verifact, que coleta provas digitais preservando a cadeia de custódia, têm sido usadas por vítimas para embasar denúncias, mas a responsabilização ainda enfrenta obstáculos legais e técnicos.
Reflexão e perspectivas
O Movimento Legendários reflete um fenômeno mais amplo de radicalização masculina na era digital, alimentado por frustrações sociais e pela amplificação algorítmica de discursos polarizados. Embora suas origens estejam ligadas a uma busca por identidade e propósito, as denúncias e os ecos de misoginia levantam preocupações sobre seu impacto na sociedade. A falta de processos judiciais conclusivos indica que o movimento ainda opera em uma zona cinzenta, entre a liberdade de expressão e o discurso de ódio.
Para especialistas, o enfrentamento desse tipo de subcultura exige não apenas medidas legais, mas também esforços educacionais e sociais que ofereçam alternativas aos jovens atraídos por essas ideias. Enquanto isso, o Movimento Legendários segue como um exemplo das tensões de gênero que continuam a moldar o debate público no Brasil e além.
Origem detalhada do Movimento Legendários
O Movimento Legendários foi fundado em 23 de julho de 2015, na Guatemala, por José "Chepe" Putzu, pastor da Iglesia Casa de Dios, uma igreja evangélica com forte influência no país. Putzu, formado em Administração de Empresas e com mestrado em Marketing, é também autor do livro A Rota do Caçador: Guia Essencial para Homens com Fome de Conquista (Editora Relevantes), que reflete os ideais do movimento: transformar homens em líderes espirituais e familiares através de superação e fé.
A iniciativa surgiu com um grupo inicial de 109 participantes em um retiro na montanha, concebido como um rito de passagem de 72 horas, envolvendo desafios físicos, emocionais e espirituais. O evento, chamado TOP (Trilha de Oportunidades e Propósitos), foi estruturado para levar os homens a confrontar suas limitações e encontrar propósito alinhado aos princípios cristãos, sem vinculação a uma denominação específica.
O movimento chegou ao Brasil em 2017, com o primeiro TOP realizado em novembro de 2018, em Balneário Camboriú, Santa Catarina, organizado pelos chamados "Pioneiros Brasil". Desde então, expandiu-se rapidamente, alcançando mais de 26 mil participantes no país até 2025, segundo o site oficial legendariosbr.org.br. Hoje, está presente em 70 cidades brasileiras e em 17 países, como Estados Unidos, México e, em breve, Portugal, totalizando cerca de 100 mil membros globalmente.
O Brasil é o segundo país com maior número de adeptos, atrás apenas da Guatemala. Os participantes, ao concluírem a trilha, recebem um número sequencial único e o título de "Legendário", sendo Jesus Cristo considerado o "Legendário #001". O grito de guerra "ahu" (amor, honra e unidade) simboliza os valores centrais do grupo.
A metodologia do Legendários é inspirada em tradições de ritos masculinos e na espiritualidade cristã, mas sua estética e discurso também ecoam influências de movimentos globais de masculinidade, como o "Promise Keepers" nos EUA, adaptados ao contexto latino-americano.
A experiência de quatro dias na natureza, sem comunicação com o exterior, inclui pregações, orações e reflexões sobre papéis masculinos como "sacerdotes do lar", atraindo homens de diversas origens religiosas que compartilham a crença em Jesus e na Bíblia.
O Top Warriors, direcionado a jovens com idade entre 18 a 30 anos, está sendo vendido por R$ 1.499,00.
Percepção feminina
As mulheres, de uma forma geral criticam o movimento. Um vídeo da publicitária Isabela Viegas, no TikTok, onde ela classifica o Legendários como um ' esquema de pirâmide’ e tece fortes críticas sobre os homens que participam do movimento, viralizou também em outras redes. No X, o vídeo já tem quase 1 milhão de visualizações. Veja abaixo:
Na rede, praticamente todas as postagens são críticas ao movimento.
Casos específicos registrados
O crescimento do Legendários não passou despercebido, mas também trouxe à tona incidentes que geraram debate. Um dos casos mais graves ocorreu em 31 de janeiro de 2025, em São Gabriel do Oeste, Mato Grosso do Sul, quando Fábio Adriano Machado Cherini, um administrador de empresas de 44 anos, morreu durante uma trilha de 72 horas organizada pelo movimento.
Segundo reportagem do UOL, Cherini passou mal durante o acampamento na região do Rio Negro, apresentando confusão mental. Apesar de ser acompanhado pela equipe médica do evento, sofreu uma parada cardíaca e faleceu. A Polícia Civil registrou o caso como "morte a esclarecer", e a investigação segue em andamento.
Os organizadores afirmaram que todos os participantes apresentaram atestados médicos de aptidão física, mas o incidente levantou preocupações sobre a segurança e os riscos das atividades extremas promovidas pelo grupo.
Em 8 de março deste ano, Dia Internacional da Mulher, a biomédica Thanize Gribler, de 29 anos, foi agredida por três clientes em um restaurante no Bairro Jardim das Américas, em Cuiabá. A confusão teria começado após um desentendimento envolvendo crianças que brincavam no parquinho do estabelecimento.
Os agressores, dois empresários, Celso Biancardini Gomes da Silva Júnior e Rafael Dias, haviam sido expulsos do grupo Legendários. O Movimento dos Legendários de Cuiabá afirmou, em nota, repudiar qualquer ato de violência e considerar a conduta dos envolvidos uma violação dos princípios do movimento. De acordo com o grupo, Legendários é uma iniciativa que busca transformar homens, famílias e comunidades por meio de experiências que levam a encontrar a melhor versão de si mesmos.
Outro caso marcante envolveu ações sociais do movimento. Em maio de 2024, durante as enchentes no Rio Grande do Sul, mais de 100 mil Legendários, segundo a Rádio Sideral, participaram de esforços de auxílio às vítimas, arrecadando recursos e prestando suporte direto.
A atuação foi reconhecida em uma sessão solene na Câmara Municipal de Curitiba, em 15 de maio de 2024, proposta pelo vereador Professor Euler, destacando o impacto positivo do grupo em crises humanitárias (Portal da Câmara Municipal de Curitiba).
Por outro lado, há registros de críticas nas redes sociais. Posts no X questionam a conduta de alguns membros, sugerindo comportamentos contraditórios aos valores pregados, embora sem detalhes específicos. Esses relatos, porém, permanecem anedóticos e não foram vinculados a denúncias formais.
Em Rondônia, movimento cresce
Figuras públicas como o deputado federal Lúcio Mosquini e Márcio Nogueira, presidente da seccional da OAB no Estado, além do ex-chefe da Casa Civil, Júnior Gonçalves, ajudaram a impulsionar o movimento em Rondônia.
Em postagens em suas redes sociais, eles falam sobre ‘os desafios superados’ e a ‘grandeza das experiências'. A página LegendáriosJipa, no Instagram, já reúne mais de 1 mil participantes, onde são postadas imagens dos desafios feitos pelos participantes
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O movimento também tem se mobilizado no sentido de arrecadar suprimentos para as vítimas de enchentes e voluntários que possam auxiliar nos trabalhos junto às comunidades atingidas.
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Fontes:
Rádio Sideral, "Movimento Legendários: história, propósito e impacto na sociedade," 30/01/2025.
UOL Notícias, "Legendário morre em trilha; o que é grupo cristão para 'resgatar casamento'," 05/02/2025.
legendarios.org.br e legendariosbr.com.br, páginas oficiais do movimento.
Portal da Câmara Municipal de Curitiba, "Movimento Legendários recebe homenagem," 15/05/2024.
O Tempo Betim, "Legendários, um despertar dos homens para a transformação," 23/03/2025.
Posts no X, coletados em 06/04/2025, para sentimentos e percepções públicas.